sábado, 9 de janeiro de 2021


         "O LUTO E DEPOIS.."


A perda de alguém amado, infelizmente experiência de mais de 500 mil famílias no Brasil com a pandemia atual. Corte profundo e repentino sem a possibilidade do ritual de despedida, quando dividimos a dor da perda junto a familiares e amigos. 

A experiência diante da morte e da finitude move intensa angústia, ferindo nossa onipotência quando não há o que fazer, a não ser aceitar o limite da vida do outro que amamos. Ao mesmo tempo também nos deparamos com o tempo de nossa vida que nos remete aos ideais, fantasias e desejos muitas vezes ainda não alcançados.

É importante em nossa sociedade acelerada, poder respeitar o nosso próprio tempo de expressão da dor, seja no choro, tristeza ou afastamento social.

Neste período de elaboração do luto, vamos aceitando aos poucos a perda da pessoa amada, mas sempre recuperando um traço, uma marca de vida que tenha nos deixado, um jeito, um desejo, um gosto que assimilamos para nós e que levamos para nossa vida. Quando buscamos e inventamos com a perspectiva do tempo nossos próprios gostos e vontades, reiniciando um outro ciclo de vida com outras trocas afetivas.

O individualismo da atualidade, na verdade não nos favorece. É  uma ilusão prescindir de SER com o outro, pois nossa vida sempre se constitui desde o nascimento nas relações de afeto com as pessoas, dentro e fora do núcleo familiar, direcionando o sentido de nossa vida.

Poder chorar, falar o que sentimos e pensamos com alguém, com um familiar, um terapeuta ou um amigo para poder escutar-se e fortalecer-se nas escolhas e caminhos, via reinícios.

Ana Lucia Esteves/Psicanalista                                                                                                                                   

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