"A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a
coragem. A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem,
a mudá-las." (Santo Agostinho)
"A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem. A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las." (Santo Agostinho)
Um
encontro de jovens do Movimento Passe Livre posicionando-se contra o aumento
abusivo das tarifas do transporte público à multidão que tomou as ruas,
chegando às portas do Congresso, surpreendendo o poder público que ao recorrer
à violência detona a indignação via redes sociais. O Estado num primeiro
momento de desorientação reprimiu, depois como estratégia temendo a rejeição
passou a incorporá-lo, investindo na ingenuidade da população com políticas públicas apressadas e a promessa de combate à corrupção. Os meios
de comunicação dominantes partiram do desprezo inicial ao desvirtuamento do
movimento, e por fim ao reconhecimento das reivindicações e da força da
população reunida.
Surpreende que em nossa cultura
capitalista individualizada, onde as relações sociais se encontram empobrecidas
e esvaziadas pela captura constante da imagem e das relações de consumo
imediatas, um movimento possa surgir com tanta força e de forma tão inusitada. A subjetividade coletiva lança uma faísca, formulando uma contrariedade ao ideal de perfeição e completude imaginária impostos pelo mercado no uso de um mal-estar constitutivo. Um corte se fez no gozo social, um ato que
faz uma reviravolta na rotina, numa mistura de angústia e coragem de renunciar
ao que se recebe e apontar na direção da carência do sujeito e do exercício da lei. Faz lembrar o mito da caverna de Platão onde uma multiplicidade de imagens substituem a realidade, quando as pessoas aprisionadas à caverna vêem sombras e efeitos que acreditam ser realidade.
A
entrada do sujeito na cena social carrega a insatisfação e o desejo como
elementos comuns. Mal-estar que gerou uma multiplicidade de reivindicações,
revelando a crise de representatividade do espaço político atual. Sem a
mobilização dos partidos ou sindicatos, sem lideranças, como uma massa anônima
de organização horizontalizada e sem identidade política. Em sua maioria,
composta por jovens que nunca viveram esta experiência, muitos, desconectados do passado de lutas pela democracia, mas sensibilizados às injustiças sociais.
A violência que deixou marcas no
corpo dos jovens é exercida e sentida também na maior parte da população com a
precariedade da saúde, educação, segurança e transporte que vivenciamos ou
assistimos todos os dias nas imagens e notícias já banalizadas pelos meios de
comunicação. O efeito foi um furo no
discurso e na ação dos que detém o poder público e o dever de propiciar o
atendimento à população na ordem da sobrevivência digna, negligentes com a
maioria dos cidadãos em seus direitos essenciais.
A identificação a um mesmo ideal
fez a conexão da esfera do particular para o movimento público de forma
instantânea, formando um grande laço social. Um limite ético, um ponto de
basta, uma declaração pública e em massa
que discorda e cobra outra forma de atuação político-econômica. Muitos
jovens não sabem como ou o que reivindicar, mas indignados e insatisfeitos querem
que seja diferente. Parece que a opacidade do passado e o sonho do país do
futuro veio dar lugar à indeterminação neste sintoma social que marca e
constrói a atualidade.
2013
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