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Imagem: M.Boyayan |
Não há comprovação científica de que o autismo, esquizofrenia, Alzheimer ou estados depressivos sejam hereditários, ou seja, que sejam transmissíveis de pais para filhos.
A hereditariedade é uma predisposição alterada pelo ambiente e não uma herança. A expressão dos genes vai depender da relação com o ambiente psicossocial, são multicausais em uma transmissão psíquica que muitas vezes não temos consciência.
Nos últimos anos vivemos um determinismo genético apoiado nas neurociências, que tem ocupado grande espaço na mídia veiculando a hereditariedade de doenças mentais e demências como uma certeza, mas sem evidências científicas.
A certeza de uma falha no cérebro ou na transmissão genética não se comprova, a não ser em caos raros, além disso nem todas as doenças genéticas são transmissíveis.
Segundo a geneticista M. Katz (USP), o reconhecimento de possíveis predisposições genéticas não significa que a pessoa terá a doença. Existe um "DNA" social além do biológico, uma transmissão psíquica que passa de geração em geração.
Para além do biológico, outros fatores como o ambiente sócio cultural e o psiquismo modificam a expressão dos genes. Lembrando o valor estruturante que a psicanálise dá às experiências infantis que marcam os primeiros anos de vida.
Construímos nossas identificações nos afetos, segredos, histórias familiares e traços subjetivos em nossa experiência de vida que nos apropriamos e repetimos, sem que possam ser medidos.
A consequência do determinismo biológico com seu viés ideológico na atualidade, é a impossibilidade da pessoa apropriar-se de sua história singular e implicar-se em seu destino, em oposição a uma certeza que de fato não existe.
"Quando uma prática não consegue se sustentar nos princípios de sua ética, se transforma no exercício de poder." J. Lacan (Psiquiatra, Psicanalista).
Ana Lucia Esteves, psicanalista.
Obrigada!
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