O nascimento em si é uma crise primordial que se apresenta ao psiquismo, onde se instala a marca de uma relação biológica interrompida.A placenta como uma parte de si que perde ao nascer, assim como o seio materno em sua função de corte, simbolizam o "objeto perdido", instauram um vazio, um buraco a ser preenchido de um objeto jamais reencontrado e sempre substituído.Jacques Lacan, psiquiatra e psicanalista fala de um reencontro com o signo de uma repetição impossível, como a busca incessante no "Outro" do que falta em nós mesmos.Nossa subjetividade gira em torno desta falta e o que fazemos com ela.De acordo com Sigmund Freud, ocorre uma perda da libido que induz o sujeito a buscar fora de si mesmo uma completude. Podemos pensar no mal estar da civilização quando diz que o prazer que se busca nunca será completo, pois sempre faltará algo.Isto nos remete ao nosso mundo contemporâneo com a ilusão do corpo/imagem perfeita ou da “felicidade” total ofertada pelo mercado, mas nunca alcançada completamente, somente nos primórdios do nascimento.Neste sentido, a falta é o que move nosso desejo e nos desafia diante da vida.
Ana Lucia Esteves. Psicanalista/Psicóloga