quinta-feira, 23 de abril de 2015

LIMITES

LIMITES NA RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS


“O fundamento da autoridade é poder dizer sim” - Eri Laurent


Na atualidade, os pais queixam-se do comportamento voluntarioso, agitado e agressivo dos filhos. Estes, por sua vez, são nomeados como problemáticos e sem limites. As relações sociais e culturais que a criança vivencia são diferentes da época de seus pais. Hoje a família apresenta novas configurações, novos arranjos e diferentes formas de convívio no tempo e espaço contemporâneo.

As leis que regem a convivência têm se diluído, faltando referência e consistência nas palavras e ações do adulto na relação com as crianças e jovens. Efeito do mundo tecnológico e globalizado, que tem provocado mudanças nos valores e padrões de comportamento. Com a pluralidade de posturas e escolhas é difícil definir o que pode ou não pode na educação dos filhos. Observamos um excesso como resposta, que vai da superproteção ao desamparo.

Vivenciamos uma indefinição de papéis sociais e uma destituição das funções familiares,  onde a diluição da autoridade nas leis que conduzem as referências identificatórias se perdem. É na intenção de fazer o melhor que os pais igualam-se aos filhos, na posição de "amigos", em uma relação de simetria, perdendo sua função na transmissão da  subjetividade infantil. A falta de tempo e a busca de satisfação imediata na atualidade reflete-se na tendência em satisfazer os filhos em todas as suas vontades, em oposição às restrições que viveram quando crianças. Segundo Rousseau, "...não se deve conceder à criança porque pede, mas porque precisa. Foi porque precisou que começou a falar".

A colocação de limites é essencial ao desenvolvimento infantil. Não se trata somente de fazer obedecer, são pontos de orientação que geram a confiança que as crianças necessitam, em uma ação que mostra impedimentos e aponta outras direções. Não é somente dizer "não" o tempo todo, mas apontar o que é possível. Tampouco é simples saber exercer a autoridade necessária sem ser autoritário, pois a autoridade se fundamenta, segundo E. Laurent, sobre o que é autorizado e não sobre o que é proibido. 
Dar limites é poder ensinar a conviver com a frustração e adiar a satisfação, pois o convívio fora do lar protegido requer este saber, ou seja, fortalecer-se para enfrentar as dificuldades que a realidade impõe. Uma criança que reina em sua casa, sempre atendida em tudo o que quer, terá dificuldades em aceitar restrições, normas e conviver no coletivo escolar.

Tanto na clínica quanto nas escolas recebemos constantes queixas de agressividade infantil, que entre outros, é um sintoma que mostra uma mensagem alterada de reconhecimento e um pedido de que o ambiente os contenha.
Acredito que muitos pais que se apresentam perdidos na educação dos filhos possuam o bom senso de como devem agir, mas falta confiança em si próprios para sustentar seu lugar e sua palavra na relação com as crianças. Temem ser repressores, traumatizá-los ou não conseguem suportar ver seus filhos insatisfeitos. A tentativa de atender a todas as demandas infantis, se torna  uma missão impossível, na medida em que por mais que tentem não há satisfação que se aplaque a não ser com o encontro do limite que a própria realidade impõe. A vida é feita de limites a serem respeitados e frustrações a serem ultrapassadas. 

A identificação na infância com o mundo adulto vai se construir nas experiências do cotidiano apresentadas e vivenciadas.  As crianças e os jovens precisam deste saber, amor e confiança, pois os pais ou responsáveis são como um espelho onde os filhos se refletem e começam a modelar seus passos.


Ana Lucia Esteves
Psicanalista

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