Nosso encontro com a
deficiência no universo corporativo
A
dificuldade no vínculo social, familiar e laboral de pessoas que apresentam
algum tipo de deficiência, congênita ou adquirida, se encontra inscrita em
nossa história. O efeito deste contexto discriminatório é a privação do acesso
à educação, trabalho e inserção social. Estamos caminhando para reverter este processo, mesmo com a atual política governamental atual de retrocesso.
Atualmente,
vivenciamos a recente divisão de espaço no encontro da deficiência com o campo
do outro. Estamos passando do tratamento assistencialista para uma mudança de
atitude tentando poder compartilhar a abertura deste novo lugar social através
do trabalho, ultrapassando os sentimentos de rejeição ou compaixão no convívio
com estes trabalhadores.
Para além da esfera legal onde se faz cumprir um
direito de acesso ao trabalho, ressalta-se que a consciência deste direito é outra conquista neste
processo, possibilitando assim uma real inclusão. No entanto, a recente
inserção no mercado de trabalho precipita no ambiente corporativo um
estranhamento diante destes novos trabalhadores que chegam, revelando a falta
de informação, o desconhecimento e reações adversas que nos remete às nossas
próprias limitações, desvelando nossa incompletude.
A
inserção de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência física, sensorial ou intelectual no mercado, vai promover o convívio social e a
possibilidade do exercício efetivo de cidadania aprendendo a conviver com a diferença de padrões. O trabalho como um
propulsor da subjetividade na produção e nos vínculos deve poder assegurar a autonomia e independência
almejadas.
Após
o processo de seleção, capacitação e qualificação profissional para a função a
ser exercida, é necessário garantir sua permanência no trabalho,
desenvolvendo suas capacidades, obtendo produtividade e exercendo uma conduta
profissional que atenda suas expectativas e as da empresa, enquanto sujeito
psíquico e social. Ser e sentir-se reconhecido como mais um integrante de uma
equipe de trabalho, entender sua deficiência como um traço e não um rótulo,
aceitar uma falta de eficiência específica e exercer outras habilidades
possíveis. Poder estabelecer vínculos,
permitir-se desempenho, valorização, produtividade, construir um ideal, enfim,
reconhecer-se como um profissional que tem padrões sociais, anseios e projetos
de vida como qualquer trabalhador.
Tentar
não se apegar à sua incapacidade, superando o próprio preconceito e limitações, assumindo uma nova posição. Esta não é uma tarefa
simples e requer apoio e suporte iniciais para garantir a vaga de trabalho
conquistada, a permanência efetiva na empresa e a possibilidade de construção
de um ideal no universo corporativo como qualquer outro cidadão. É muito
importante neste momento que estas pessoas tenham voz neste processo inclusivo
e possamos dividir as questões que surjam com eles, e não por eles.
Ana Lucia Esteves
Psicanalista
Ana Lucia Esteves
Psicanalista
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