Saúde Mental Do Idoso: Limites e Possibilidades.
O envelhecimento é um tema cada vez mais presente, efeito dos progressos na medicina e de melhores condições de vida. Etapa do desenvolvimento humano, que além do referencial cronológico é também o reflexo da história de vida do sujeito, e de um passado que o individualiza.
Envelhecer inaugura a descoberta dos primeiros sinais que marcam o tempo no corpo, trazendo o estranhamento de se descobrir como um outro. O enfrentamento desta desconstrução, somado à percepção da finitude, pode ocasionar alterações subjetivas que vão desde a depressão até questões relacionadas à própria identidade. Neste sentido pode ocorrer uma falha no processo de resignificação da imagem corporal do idoso, pensando que "seu corpo não o acompanha mais", chegando a ser difícil reconhecer-se no espelho.
Outro fator que colabora neste processo é a perda ou distanciamento dos vínculos laborais, sociais e familiares, perdas que podem representar uma parte de si mesmo que se vai, com a tendência a se deixar abandonar. Quanto mais as perdas ocupam espaço no psiquismo, menos rica e mais deteriorada torna-se a sua qualidade de vida. Assim pode ocorrer um apego às vias do desprazer e à falta de poder colocar em palavras o que é vivido no presente, nutrindo-se então apenas das lembranças do que se foi.
Este processo encontra ancoragem na sociedade contemporânea, na qual o lugar valorizado do velho como detentor da experiência se esvazia e cede espaço ao ideal de juventude, no intuito de postergar os sinais do envelhecimento e a proximidade com a morte.
Surpreendido pelos sinais do tempo e a fragilização biológica, social e afetiva, o que constatamos na clínica é que muitas vezes o isolamento ou a doença física vem ocupar este lugar vazio, revelando altos níveis de angústia e um "apagamento" do sujeito do desejo. Como consequência temos um maior número de manifestações depressivas, doenças crônicas, distúrbios neurológicos e comportamentais, gerando muitas vezes um processo de envelhecimento patológico.
Poder rever seu passado e os significantes que fundam sua história, possibilita ao idoso uma valorização positiva de mais esta etapa de vida. Querer formular desejos, encontrando atividades substitutivas e exercendo o ócio ativo. Poder querer construir novos sentidos na vida e ser tratado com dignidade e reconhecido em suas palavras e ações.
O entorno familiar e social tanto podem influir positivamente neste processo, como acelerá-lo de forma negativa. A promoção da relação idoso-familiar, através da conscientização dos familiares em relação às dificuldades e ao potencial remanescente do idoso, pode ser de grande ajuda.
Visando melhores condições mentais do idoso, é importante a mobilização de afetos, promovendo mudanças subjetivas, ao oferecer espaço de expressão e escuta. Como porta-voz e intérprete de seu sofrimento, recuperando uma posição de sujeito de seus desejos, e não somente como objeto de cuidados.
Entendemos com a Psicanálise que “a temporalidade do inconsciente remete a um sujeito que não envelhece”.
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