Quem nunca se sentiu injustiçado, traído ou surpreendido por um comportamento destrutivo no meio familiar, social, amoroso ou laboral?
O sentimento é de mágoa, dor, culpa, humilhação e até revolta, e nos afeta profundamente, abrindo uma ferida difícil - no entanto, possível de cicatrizar.
As coisas se complicam ainda mais quando guardamos as mágoas, ao repetir e alimentar o sofrimento, que vai se transformando em ressentimento. Não se trata de esquecer as mágoas, mas de não permitir que ocupem tanto espaço em nossos pensamentos e afetos, nos distanciando de nossos ideais, fragilizando-nos.
A pessoa ressentida passa a evitar relações afetivas próximas, temendo sofrer novas injustiças, perdendo a confiança nas pessoas, e muitas vezes, isolando-se. Na impossibilidade que sente de posicionar-se e superar uma mágoa, permanece o medo de que outras pessoas possam fazer o mesmo.
Não é incomum vitimizar-se nas queixas de que não encontram saídas possíveis, sem que pudéssemos alterar a situação com nossas próprias decisões, indefesos, a mercê de um outro que permitimos ser manipulados como um objeto, gerando angústia e sofrimento psíquico.
Talvez, inconscientemente, resgatamos uma posição infantil, esperando que alguém reconheça nossa dor e nos defenda: um familiar, o Estado, a crença divina ou um amigo. Ou talvez devêssemos utilizar estes mesmos vínculos como apoio para tentar uma mudança de posição, para retomar nossa força, energia e coragem para fazer diferente, e não permitir que se repita qualquer tipo de desvalorização.
É importante refletirmos sobre o que de nosso comportamento e de nossas emoções permitiu que uma relação chegasse ao ponto de nos causar um grande ressentimento, chegando a paralisar nossas ações.
Uma direção possível para que a mágoa não se transforme em ressentimento, ferindo nossa integridade e nossos direitos, é não desistir de nos posicionar e responsabilizar em ultrapassar qualquer agravo.
Sabe-se que existem dois tipos de dor: a dor que só machuca e a dor que nos modifica.