Na 1ª infância, uma criança que não fala, ou demora a ceder sua voz na relação com as pessoas, mostra um sofrimento psíquico na dificuldade das trocas de prazer e desprazer, ao não saber como vivenciar o laço social. Permanece mais recolhida e com pouca comunicação, não articula palavras ou chama alguém para algo com sua voz própria.
Seu mundo costuma estar reduzido ao contato de quem o cuida, defende-se muitas vezes ao tampar os ouvidos rejeitando o contato do meio familiar e social, que é sentido como invasivo e ameaçador.
No entanto, apesar de não falar, a linguagem ocorre de forma não verbal através da expressão no corpo, que comporta sua subjetividade.
Expressa gestos repetitivos, gritos, olhar, choro, birra, ou mesmo quando utiliza o corpo do outro, ao pegar a mão do adulto para alcançar o que quer, em um discurso onde não precisa utilizar a fala.
Ao não representar com palavras o que precisa e sente, permanece muitas vezes dependente como um "bebê grande". Assim, fica difícil separar-se desta completude em uma parceira fechada com um adulto ou objeto, resistindo a aceitar os limites e as frustrações da realidade, que a função do pai opera ao abrir espaço na dupla criança/mãe para o mundo.
Para que a criança se constitua subjetivamente é necessário abrir um espaço, uma separação ao não responder de forma imediata em uma relação corpo a corpo, onde acabamos por adivinhar o que a criança quer sem que precise usar a fala. Desta forma, tudo acaba vindo ao seu encontro sem que precise chamar, pedir, olhar e falar para acessar as pessoas.
Demarcar para criança de forma clara os limites no tempo e espaço cotidiano, trocas afetivas, o olho no olho e palavras que marcam ações são referências importantes na inserção social e familiar, com os pais juntos em parceria na relação com a criança.
Ana Lucia Esteves
Psicanalista/Psicóloga